Entrevista com o Igor Brilha em 2006

Há alguns anos atrás, por um grande período, o principal site de skate do Brasil era da Qix. Lá era o lugar onde estavam as principais notícias do momento porque era encabeçado pelo Lucas Pexão e o Eduardo Bocão. A marca de tênis conseguiu se tornar a grande referência das novidades tanto do mundo do skate como da street art, que estava se popularizando no Brasil. E eu cheguei a ser um dos colaboradores.

Hoje em dia o site é apenas institucional e infelizmente (inexplicavelmente!) todos os artigos publicados na época que o site era de notícias foi deletado. Não há como ter acesso à um rico material que registrou um periodo da história do skate brasileiro. Justamente quando o site da Qix publicava informações de todos os cantos do mundo.

Como fui pego de surpresa, como todo mundo, não guardei cópias das fotos e nem textos que produzi exclusivamente para o site. Queria ter mais como material de pesquisa, pra tirar dúvidas… Mas hoje, fuçando um backup, achei alguns artigos feitos para a Qix. Entre eles, uma das entrevistas que mais gostei de ter feito até hoje, com o Igor Brilha. Já que achei, vou republicar aqui:

 

Frontside ollie na pista de São Francisco (foto: Sidney Arakaki)

Por muitos anos a ponte Rio-Niterói foi a mais comprida do mundo. Ela liga as duas cidades sobre a baia de Guanabara. Outra opção de fluxo entre as duas cidades são os meios fluviais. Barcas e Catamarãs fazem a travessia em poucos minutos e interligam as metrópoles como se fossem únicas. Niterói tem um dos museus mais exóticos do mundo, o MAC (Museu de Arte Contemporânea) – arquitetado por Oscar Niemeyer; praias como Itacoatiara, com suas águas cristalinas, visual paradisíaco, tranquilidade e muitas mulheres estilosas; muitos picos de street e Igor “Brilha”, o skatista anão receptivo, que aqui fala sobre o skate da cidade.

Igor Faria Braga Pereira “Brilha”
30 de junho de 1984
Skate desde 2000
Patrocínio: Plata Rock n’ Roll Skateboards, Red Nose Shoes, Green Goes Distribution e apoio Chorão Skatepark.

 Quem nasce em Niterói é o que?

Um azarado (rs). Zueira, niteroense.

Não é niteroiense?

Agora você me pegou. Na fala a gente acaba engolindo o “i”, mas na escrita eu já não sei, nunca fui bom em língua, em gramática.

Quando você vai viajar costumam te chamar de carioca?

As vezes, em sampa sempre rola, a galera do skate ou alguma pessoa na rua mesmo, mas eu acho que não tenho um sotaque forte, já vi casos mais sinistros.

Como é o intercâmbio entre os skatistas de Niterói e do Rio?

Normal, a galera se interage, skatistas de Niterói vão ao Rio e do Rio vem à Niterói andar. A galera marca altos ‘rolés’, praça JK no centro de Niterói e Praça XV no centro do Rio. Os picos de Niterói e Rio são diferenciados. Alguns podem ser até parecidos, mas nunca iguais, então isso ajuda também.

Sitdown slide na Praça Juscelino Kubitsek (foto: Sidney Arakaki)

Como chama esse primeiro pico que andamos, do lado da estação das barcas?

O nome oficial é praça Juscelino Kubitschek, mas os skatistas daqui de Niterói chamam de Praça do Centro.

 É o principal pico da cidade?

De street passou a ser, porquê todos os ônibus vão para o centro, até mesmo pessoas de outras cidades podem ir andar lá praticamente só pegando uma condução. A galera anda frenética de segunda a sexta durante a tarde e a noite. Sábados e domingos fica mais vazio, mas tem rolé. Tem a pista de São Francisco, que é a maior da cidade, tem sombra e é o ideal agora para o verão, calor infernal. Outras pistas menores como Vital Brasil, Jurujuba e Cafubá. Tem outros picos de street, menores, casos isolados e pistas também não muito frequentadas, ou particulares como a Wave Rock que tem uma piscina foda pra caralho.

 Você não paga ônibus porque é anão, né? Então em quais outros picos vai?

O passe-livre por causa do nanismo ajuda, apesar de muitos motoristas de ônibus não respeitarem. Vou à todos os picos. Quando me dá na telha vou a um, gosto de variar, mas tenho meus favoritos. Gosto do MAC, que tem a transição louca na beira do penhasco e maior ladeirão pra descer depois. Sem falar do visual. Gosto da pista de São Francisco, por causa da mini ramp e a área de street, e é perto de casa. Gosto da Praça do Centro, que tem vários curbs, degraus, gaps e bastante espaço pra andar e mandar as manobras no gás. Ao contrário das outras três pistas, nos bairros do Vital Brasil, Jurujuba e Cafubá, que são legais apesar de serem pequenas e iguais. São áreas de street feitas a poucos anos pela prefeitura.

 Com essa lei do nanismo você pode pegar a barca pro Rio, e tem passe-livre em outros Estados?

Não, porquê na verdade acontece o seguinte: existem dois tipos de passe-livre, o municipal e o da ANTT que é nacional e cobre todo tipo de transporte, menos avião. Infelizmente a barca eu ainda pago, porquê não tenho ainda esse passe-livre da ANTT

 Uma pena não poder andar lá no MAC, né? Deve ser o sonho de todo mundo que conhece o museu.

Lá dentro é perfeito, altas transições, mas acho que só vou andar lá, o dia que eu virar político e andar com mala de dinheiro (rs).

 

Wallride do lado de fora do MAC de Niterói (foto: Sidney Arakaki)

Mas lá fora dá pra se divertir, né? Ainda mais que as transições são mega-rampas pra você.

Claro que dá. Eu só não vou muito lá, porque pouca gente vai e não dá pra ficar marcando muito sozinho por lá. Mas eu me amarro. Mega-rampa nem tanto, só se eu der o azar de errar na transição e cair lá no penhasco pro mar.

 E quais as chances desse risco?

Não sei. Depois da transição tem um espacinho mínimo de grama, menos de um metro. Eu dou sorte porquê pra mim é um espaço mais considerável (rs).

 

 

Ps. O Igor não tem mais patrocinadores, mas continua andando de skate!

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