Assumir o projeto de uma pista de skate requer muita responsabilidade. Não adianta saber andar em todos tipos de obstáculos e já achar que pode projetar uma pista. A complexidade vai dos ângulos e distâncias, passa pelos materiais à serem utilizados e se estende por detalhes que só especialistas entendem. Existem diversos profissionais e empresas especializadas pelo Brasil, que projetam e constroem pistas. Cada um tem seu estilo de pista e técnica própria de construção.
Infelizmente, quando, enfim, um projeto de pista de skate é aprovado, ou eles procuram assessoria com os skatistas locais, ou, como na maioria das vezes, deixam a responsabilidade do projeto com engenheiros que não tem noção nenhuma de skate. O resultado são bizarrices arquitetônicas, dinheiro público jogado no lixo.
Por pouco, milhares de reais foram poupados de serem gastos inutilmente pela prefeitura paulistana. A pista ao lado do metrô Sumaré estava sendo construído com um projeto obsoleto, e os skatistas locais conseguiram dar uma brecada nas obras a tempo.
Reproduzo abaixo trecho de reportagem do Gyrão que saiu no site da Tribo:
“Quando tomamos conhecimento de um desenho fora dos padrões atuais, a construtora foi procurada para corrigir o rumo da construção.
Rogério Lalau foi com o Fernando Frewka, da Flyramp, conversar com os responsáveis e mostrar que um half pipe de mais de 3 metros de altura, com 8 de largura, não teria a utilidade que os engenheiros leigos calcularam. Falaram também que a área de street deveria ter o mínimo de lógica, pois um obstáculo não pode atropelar o outro. O Marcelo Carvalho, da Compacta, também ofereceu seu trabalho técnico e outros personagens, como o Flávio Ascânio e Marcio Natividade também se posicionaram para salvar a praça.
O resumo da ópera: depois que a notícia do projeto furado entrou em discussão na internet, uma reunião foi convocada para que o skatepark do Sumaré seja corrigido a tempo. O Flavinho fez a ata da reunião, que demonstra que os skatistas de São Paulo (e do Brasil, por que não?), devem aguardar tranqüilos que a prefeitura da cidade está nos ouvindo.
Leia até o fim e acompanhe.
Ata da reunião
Estavam presentes 8 skatistas de várias gerações e com diferentes visões sobre as pistas de skate que serão construídas na nova praça e o Thiago Lobo (que também é skatista), que é o responsável pelos Esportes Radicais na Secretaria de Esportes, Lazer e Recreação da Prefeitura de SP. A reunião começou umas 10h15 e terminou por volta das 11h25.
Os 8 skatistas presentes foram:
– Flávio Ascânio (representando os skatistas do bairro e os professores de skate);
– Rogério Rodrigues (representando os skatistas do bairro e uma empresa que apóia os esportes de prancha);
– Cesar Gyrão (representando os skatistas da cidade e um órgão de imprensa especializado no skate);
– Marcelo Carvalho (representando os skatistas da cidade e uma empresa especialista em construção de pistas e parques de skate);
– Márcio Natividade (representando os skatistas da cidade e uma empresa que tem contatos junto à Prefeitura de SP por desenvolver eventos ligados ao skate);
– Luiz Fernando Gherardi (representando os skatistas do bairro e uma loja especializada em esportes de prancha);
– Carlos Eduardo (representando os skatistas do bairro);
– Luciano PT (representando os skatistas do bairro).
No início, eu, o Lalau, o Gyrão, o Márcio e o Marcelo explicamos tudo o que está acontecendo ao Thiago. Depois o Luiz Fernando falou sobre as expectativas dele para que as futuras pistas de skate atendessem as necessidades dos skatistas do bairro. O Carlos Eduardo e o Luciano PT fizeram algumas observações pontuais sobre os assuntos que foram abordados pelos outros skatistas.
O Thiago disse que apesar do setor dele ser responsável (Esportes Radicais da Secretaria de Esportes, Lazer e Recreação), ele não ficou sabendo de nada por que a praça ficou sob a responsabilidade da Secretaria do Verde e do Meio Ambiente, a qual provavelmente desconsiderou a necessidade de que os projetos das pistas de skate deveriam ser feitos por pessoas que realmente entendem e estão atualizadas. Parece que a construtora responsável (D.B. Construções) pegou alguns projetos antigos e péssimos como referência e achou suficiente. A mesma construtora disse também que três skatistas participaram da elaboração do projeto, mas não souberam dizer quem foram eles…
O Thiago disse também que as obras ligadas às pistas de skate (mini rampa, área de street e banks) deveriam estar paradas. Entretanto, na última terça-feira (14/10), eu vi e fotografei os trabalhadores fazendo a mini rampa. Então, para provar o que eu estava falando, no final da reunião eu mostrei a todos as fotos e o Thiago me pediu que eu enviasse estas fotos para ele.
O Thiago nos informou que agora várias pessoas importantes da prefeitura já estão sabendo do que está acontecendo e que nós skatistas seremos ouvidos por eles. Ele ficou de marcar uma reunião entre ambas as partes na próxima semana e sugeriu que apenas alguns de nós comparecessemos a ela. Nós escolhemos o Marcelo, o Gyrão e eu, a princípio.
Como o Thiago disse que as esferas superiores já estão sabendo de tudo e vão nos ouvir, ele nos aconselhou a não fazermos nenhum tipo de manifestação, protesto ou abaixo-assinado por que isto poderia comprometer a negociação junto à prefeitura, como ocorreu recentemente com a ladeira do Alves Cruz, onde foram colocadas diversas faixas de paralelepípedos para impedir que os skatistas a utilizassem, por conta de reclamações dos vizinhos e mal entendidos entre os skatistas e os orgãos competentes.
As nossas principais solicitações são:
– interrompimento imediato das obras das pistas de skate;
– reunião urgente com os principais responsáveis da prefeitura;
– estudo de um novo projeto para as pistas de skate feito por especialistas e com a consultoria de skatistas experientes em cada uma das pistas;
– um novo projeto para as pistas de skate que atendam as normas de segurança, as necessidades e os objetivos de um parque de skate público para o lazer de todos;
– um novo projeto de pistas de skate que seja mais orgânico, moderno e que integre as três diferentes pistas de skate de forma harmoniosa e criativa;
– garantia que serão usados materiais de ótima qualidade na construção das pistas, inclusive com o acabamento em granilite;
– acompanhamento total de especialistas na execução do novo projeto das pistas de skate;
– a praça deverá ser cercada, iluminada e ter horários e regras de funcionamento;
– a praça deverá ter algum tipo de serviço de segurança que possa garantir a integridade de seus usuários;
– a praça deverá ter sanitários, água para beber e áreas com sombra para descanso;
– a praça deverá ter programas de orientação e ensino da prática de skate.
Todas estas solicitações são necessárias e têm que ser atendidas para que o espaço não se torne perigoso, mal utilizado e um gasto enorme de dinheiro público. Além do que, um parque de skate mal construído no Sumaré seria motivo de vergonha e humilhação para um local que é um dos berços do skate no Brasil e de vários importantes skatistas que escreveram e ainda escrevem a evolução histórica do skate no Brasil e no mundo!”
Essa atitude da galera do Sumaré tem que virar referência. Temos que supervisionar e botar pressão nas obras de pistas de skate. A maioria de nós não temos noção de como projetar uma pista. Em 2004 quando participei de uma reunião na prefeitura de São Bernardo e eles falaram que só precisavam de um projeto de reforma da pista para aprovar o orçamento, fiquei telefonando pro Rotatori ir lá. Porque acredito que ele é o profissional mais indicado no Brasil. E tinha gente na reunião falando que era só ir até Manaus, pegar o projeto da pista de Ponta Negra e construir aqui.
Semana passada recebi um email de um secretário de uma cidade do Espírito Santo solicitando informações para construção de uma pista para um ginásio de esportes radicais. Eu podia perfeitamente me oferecer pra ser consultor, mas achei mais justo colocá-lo em contato direto com a CBSk.
A foto acima e as duas abaixo são da pista de Maringá. Pra quem não sabe, o Rafael Gomes é presidente da Associação de Skate de Maringá. Na cidade dele, construíram uma pista sem consultoria. A construtora, que já tinha feito uma pista no Rio de Janeiro (Gamboa), pegou o projeto do Frewka e adaptou no terreno maringaense. Só que ficou toda desproporcional. Quando o Rafael e os skatistas da cidade ficaram sabendo da construção e viram as irregularidades, tentaram embargar a obra. Foram atrás dos responsáveis para paralisarem a obra e nesse meio tempo entraram em contato com o Mario Hesketh da CBSk pra pedir ajuda jurídica, mas o Mario não deu retorno. Aí, quando eles conseguiram ser recebidos pelo prefeito e exporem os problemas, a pista já estava num nível avançado. Depois, descobriu-se que nem o Frewka sabia da existência dessa pista, só a da Gamboa. A pista foi inaugurada no meio do ano, mas ainda não foi liberada porque fica no centro de um velódromo, que ainda não tá finalizado.
Eu ainda não fui conhecer essa pista. O Rafael me mandou essas imagens na época da construção. Olhando essa foto de baixo dá pra ver que no lado esquerdo não tem obstáculos, só gramado. E não tem espaço entre os obstáculos para pegar gás.
A pista fica num centro olímpico e foi construída com verba federal.
Essa rampa reta é curiosa. Acho que tem 45° e quase 3 metros de altura. Fica em Guarapuava e quando eu estive lá a molecada usava muito bem.
E essa pista que foi construída recentemente em Matão? Será que os skatistas da cidade não viram que estavam construindo uma aberração? A cidade tem um skatista profissional, o Gibi. Devia ser responsabilidade dele e dos skatistas locais esse zelo. Só mandaram essa foto pra 100% depois que foi finalizada.
Que essas histórias sirvam de exemplo para que haja um melhor direcionamento nas construções de pistas pelo Brasil.
Site do Belote também mostra algumas aberrações que me fazer estes mesmo questionamentos: Será que não tinha nenhum skatistas que viu a construção da pista?! Este mesmo modelo do Gamboa parece que é referência em todo o Brasil. Recentemente estive em Vitoria da Conquista (BA) e o projeto é identico. Até ai tudo bem, pois área de street dá até para andar, mas ao lado fizeram um conjugado de duas mini ramps interligadas que está notorio que não foi feito por uma mão de obra especializada. Este conjulgado é tão grande que por baixo devem ter gasto algo em torno de uns R$ 70.000,00…dinheiro este que daria para fazer um ótimo bancks ou algo parecido. Quando vi tive o mesmo questionamento: Será que não viram que a transição era impraticavel? A grande verdade é que, principalmente nas pequenas cidades, falta ainda muito comprometimento e união do próprios skatistas, situação esta que faz o skate se arrastar aqui em Porto Seguro, mas vamo que vamo a luta continua, Skate Sempre!!!!
Parabéns Sidney por esse post. Espero que a partir do mesmo, muitas outras pessoas, inclusive Lideranças e Poder Público tomem consciência do que deva ser observado ao se projetar e construir uma Pista de Skate, evitando dessa maneira, aberrações e “elefantes de concreto”, tais como apresentadas nas fotos.
Saudações. Um grande abraço para você.
Gino Borges.
Skatista e Eng. Civil
Olá, gostaria de saber se existe em SP capital alguem especializado em construção de pista de skate, gostaria de construir uma em minha casa.
Obrigada
Olá sou skatista desde de criança e perto de casa tem um terreno da prefeitura sem arvores só mato e gostaria de saber como incentivar para a construção de uma pista neste local? no mesmo ambiente temos uma quadra de esportes que foi reformada a pouco tempo e um campo de futebol que está sendo transformado em gramado sintético tudo isso por parte da prefeitura e nada de uma pista de Skate para a transformação da garotada que anda na rua.
obrigado e espero a ajuda.