Bob Burnquist ocupa agora um cargo que só confirma sua soberania no skate brasileiro: Presidente da Confederação Brasileira de Skate.
Robert Dean da Silva Burnquist tomou posse no último sábado, na assembleia que reuniu representantes de entidades filiadas e com direito a voto.
Em agosto, Marcelo Santos e Ed Scander renunciaram aos seus cargos de presidente e vice da CBSk. Num primeiro momento, a notícia foi um choque, mas no dia seguinte, Bob Burnquist anunciou sua candidatura e ninguém se inscreveu para concorrer e complementar o mandato que irá até abril de 2019.
Na cerimônia, Bob Burnquist foi aclamado presidente por unanimidade, apresentou a nova diretoria e explicou que tudo foi um plano para unir forças e fortalecer o skate nacional.
Foi uma responsabilidade que ele chamou no peito por decisão e vontade própria. O processo foi natural, depois de reflexões e Bob diz que o fato de não terem o pressionado pra estar nessa posição o deixa mais tranquilo.
Quando Bob apresentou a ideia para Marcelo e Ed, foi muito bem recebido. Os dois já tinham tido essa ideia, mas não sabiam como Bob reagiria ao convite. “Eles já imaginavam o negativo. Que realmente, se eles chegassem em mim, inicialmente negaria. Mas eu queria ajudar“.
A partir daí, ele começou a fazer contatos e pedir conselhos. Ligou também para alguns skatistas como Luan Oliveira, Leticia Bufoni, Pedro Barros, Sandro Dias e todos manifestaram apoio e o encorajaram.
Bob reconhece que ainda precisa aprender sobre muitos assuntos burocráticos, mas é o momento do tudo ou nada. Uma esperança que muitos estão depositando em seus ombros e ele sabe que será capaz de conduzir e organizar, como fez com sua carreira de skatista e se tornou essa pessoa respeitada internacionalmente em várias esferas, muito além do universo do skate.
Na posse, entrevistei o novo presidente da Confederação Brasileira de Skate com os colegas do canal Skatemind, Aguinaldo Melo e Marcos Hiroshi.
Os principais trechos da entrevista com Bob Burnquist editei e montei aqui de uma forma que facilite a compreensão da estratégia e planos para o futuro.
“Eu entendo que eu faço parte do skate, sendo político ou não. Por isso eu sei que tenho essa responsabilidade já, independente de confederação ou federação. Eu tenho uma identidade no skate, isso eu entendo e compreendo completamente. Essa responsabilidade eu abraço, carrego, entendo e sei. Então nessa nova jornada, entendi que essa mesma responsabilidade, ela existiria eu estando aqui ou não.
Pra eu abraçar uma situação dessa, eu vou aprender. Eu não sei de tudo, não tenho ideia, venho aprendendo bastante conversando com as federações, entendendo outro lado do skate. Outras necessidades, obviamente, não só construir pistas ou campeonatos. Tem toda uma interação com o poder público, recursos, patrocínios, criar produtos. Agora tem que criar uma identidade, criar produtos e trazer recursos pra dentro da confederação.
Tem a emergência da solução sobre as olimpíadas, então a gente vai dar atenção a isso.
O Sandro (Dias) estando perto me deixa também bem tranquilo, porque eu sei que juntos a gente consegue fazer e atender, e se reunir com pessoas. A gente não tá falando só de skate aqui. É uma confederação de skate, só que eu vou interagir e conversar com todo mundo. Até porque, pra gente criar essas pontes, a gente vai falar com muita gente que anda de skate, não anda de skate, então a gente vai negociar a identidade e a nossa cultura com quem não é do meio. Tem todo lado que é necessário, que é de imagem. E o lado de realmente fazer acontecer, que aí vem todo esse grupo e esse corpo que a gente conseguiu montar pra me deixar seguro de que, em cada ramo, em cada posição, temos os melhores que eu poderia ter. Pessoas de confiança, e que agora não é só uma pessoa. Porque se fosse pra entrar numa posição como o Ed (Scander) e o Marcelo (Santos) segurando tudo nas costas, é muito nobre. É uma situação de extrema dificuldade.
Então, eu já sei que de uma certa forma ou de outra, eu entrando com todo esse suporte, facilitou até de eu decidir ir ou não. Sozinho ninguém faz acontecer. Quando alguém perguntar pra mim, eu vou voltar pra todo mundo, federações, skatistas, comitês. Juntar o skate como um todo e ‘e aí, galera, o que a gente vai fazer?’. Eu tenho minha opinião, tem o que eu gosto, o que não gosto. Mas agora é saber ouvir e andar como um todo. Não andar desmembrado.
A gente vive um momento da confederação de esperança. A gente viveu no começo do ano a galera se unindo, #SomosTodosCBSk. Um momento bonito, porque nem sempre foi assim. Sempre existia aquela dúvida.
Eu entendi que, ou a gente aproveita esse momento de esperança e transforma em algo positivo, ou esse momento de esperança se transformará em desilusão e se desfaz tudo, acaba. Então, é aproveitando esse momento pra unir e seguir com a nossa agenda, que a gente quer. E aí sim, se não der certo, se não acontecer, pelo menos a gente foi, tentou e boa tarde.”
Para essa missão, Bob convidou um time de sua confiança para compor a diretoria. Jorge Kuge, seu grande mentor, é o diretor financeiro. Sandro Dias aceitou ser o diretor esportivo. O lendário skatista carioca Osmar Lattuca é o único que não pode estar presente na cerimônia, e consta como diretor jurídico. Ed Scander passou a ocupar oficialmente a função de secretário geral da entidade. O presidente da Federação Paulista de Skate Roberto Maçaneiro ficou com o cargo de diretor de arbitragem e Tatiana Lobo é a diretora de comunicação.
O vice-presidente é Eduardo Musa, o Duda, que não é skatista mas Bob falou sobre sua relação com ele e o motivo em nomeá-lo para o cargo:
“Eu tenho feito alguns projetos com ele. Ele é do marketing esportivo. Na verdade, ele trabalhou com o Neymar por muito tempo.
E aí eu comecei a entender o know how dele e comecei a trazer pra perto como negócio. Quando eu vi que ele tem essa compreensão de incentivo, federações, marketing esportivo e como trazer recursos, como criar produtos. Eu me senti mais seguro pra poder chegar e falar, então tá. Eu acredito que não necessariamente a pessoa precisa ser um ex-skatista ou ou dono de marca de skate pra estar compondo o corpo junto. Porque pra mim, quem tem que estar, é quem pode ser eficiente para ajudar melhor a confederação. Então eu entendi que se eu entrasse como presidente, teria uma certa liberdade de colocar alguém ao meu lado que não necessariamente ande de skate. Mas que entenda e vá me ajudar no executivo, a fazer o que tem que ser feito e pensar como trazer recursos pra dentro da confederação.
A minha confiança no Duda é que me colocou aqui. Se eu não tivesse alguém como o Duda de vice, eu muito provavelmente não estaria aqui. Tanto é que, a Tatiana Lobo, que é a diretora de comunicação, também não é uma skatista, mas é uma pessoa extremamente qualificada pra fazer e dar continuidade no trabalho.
O profissional de uma área X não anda de skate, mas não quer dizer que ele não vai conseguir me ajudar. Então é criar essas pontes pra gente poder entrar num novo momento de confederação e pensar mais alto. Pensar maior. E dar valor, e a gente sentir que mudar certas coisas mínimas da confederação, dar forças as federações, pra gente prestar atenção no skate como um todo, defender a imagem do skate. Procurar recursos, não pensando pequeno. Porque a gente tem que pensar em valorizar que o skate merece tanto recurso quanto qualquer outro esporte, e pensar grande, lá na frente, a longo prazo.
A gente tem uma identidade e uma força que muitos esportes que tem mais recursos que a gente, então vamos entrar e vamos fazer acontecer. E vamos montar uma equipe pra poder chegar nesse ponto.”
Pelo inglês fluente e sua articulação, Bob tem o trunfo de poder dialogar com autoridades internacionais do alto escalão.
“Eu venho conversando bastante com o Gary Ream, da ISF (agora World Skate), que eu fazia parte também da comissão com eles, e fui conversando, entendendo, e via uma certa dificuldade e importância de fazer algo agora.”
Bob Burnquist sobre o planejamento para assumir a confederação:
“Eu entendi que se eu entrasse como presidente, ia evitar até de fazer muitas coisas. Só de ter essa mudança e eu estar ali, já faz muito trabalho ficar mais tranquilo. Então eu entendi essa força política.
O estatuto da CBSk precisava ser montado com aqueles diretores. Então não tinha como adicionar alguma diretoria (cargo) e nem retirar. Eu tinha que ter aquela diretoria composta. E qualquer outra necessidade poderia se montar comitês. E até vi que a confederação tem sete comitês, que os skatistas realmente se reuniram. Então estava até além, não está no estatuto de ter tudo isso. Nesse primeiro momento, vamos ver aí e compor a diretoria necessária dentro do estatuto, com essa nova gestão. E, num momento consequente, junto com as federações, começar a conversar sobre construções de pistas, as olimpíadas, ou o que cada federação necessita. Então eu não tenho como chegar e entender tudo. Eu conversei com o Marcelo e o Ed, a gente entende que tem algumas coisas que a gente tem que lhe dar, botar ordem na casa. Mas que agora é começar a montar esses programas.
Eu acho que um comitê dos empresários do mercado do skate é importante também de trazer pra perto.”
O Brasil tem uma grande carência em pistas de skate e Bob Burnquist tem essa preocupação de não só aumentar a quantidade, como também ter um padrão de qualidade nas construções. Citou como exemplo montar um comitê de skatistas profissionais para chancelar projetos da CBSk e dar segurança para o Poder Público construir pistas.
O Brasil é um dos países com melhores organizações de skate. Nem os EUA tem uma confederação. Bob Burnquist comentou que:
“É uma coisa especial que o Brasil tem, que as pessoas não entendem. Nos EUA não tem essa visão, lá é muito pelo privado, então as pessoas fazem acontecer. Ou vai na fundação do Hawk (Tony Hawk Foundation), pega uma companhia grande pra fazer, ali tem recursos pra fazer acontecer. E o Brasil tem essa especialidade de ter uma confederação. A gente pode fazer muitas coisas no Brasil, que de repente nos EUA não se faz, na Austrália não se faz, na Europa não se faz, porque não tem o que a gente tem aqui. É uma coisa que realmente a gente pode ajudar muito e eu vejo a oportunidade em ter essa confederação.
Geralmente os skatistas não necessariamente são a favor de corpo (preparação física), política. Só querem andar de skate. Mas é importante de entender o que a confederação e as associações, as federações realmente estão ali pra fazer pra ajudar. Então é entender que a gente tem algo especial na mão, e poder mostrar pro mundo o que a gente pode, não só como skatista, com a habilidade, mas como uma organização.
Continuarei viajando o máximo possível representando o skate como sempre representei, mas agora de uma maneira oficial, dentro de uma entidade que eu possa trazer recursos pra dentro e a gente montar mais e mais pistas. Se puder usar o argumento olímpico, usaremos, porque é importante sim. Nós resistimos e por muito tempo pra entender. Tanto é que, a gente vê exatamente o que está acontecendo agora, é poder fazer pelo skate, mas também fazer da maneira correta. Entender o momento e seguir do jeito que tem que ser.”
Tentei deixar esse resumo o mais claro possível.
Ressalto que o nosso Bob Burnquist passou uma grande confiança quando nos respondeu.
Com certeza ele merece o voto de confiança e esperança de todos que querem ver um panorama do skate nacional melhor.
Mas não depende apenas dele, da confederação, das federações, associações, prefeituras, governo, pras coisas funcionarem como queremos.
Depende de mim e de você, nós!
Nós todos somos responsáveis pelo skate brasileiro. Melhor se estivermos unidos ao invés de só reclamar.
Falando em união, esse artigo é fruto de uma colaboração com os amigos de sessões de longa data e colegas de profissão Hiroshi e Aguinaldo. Estávamos no evento para registrar o momento histórico, e como seguimos linhas editoriais semelhantes, mas plataformas diferentes, produzimos uma verdadeira entrevista coletiva, até mesmo para otimizar o tempo do presidente.
Esse é o vídeo do canal Skatemind com o resumo do evento de posse