A narrativa da injusta história do skate brasileiro da atualidade diminui o Vanderley Arame apenas para “o Tio da Raicca”.
Mas, pra mim, o Arame sempre foi a personificação do verdadeiro skateboard. Um nome sempre lembrado quando se fala em skate divertido, com personalidade e espontaneidade.
Raicca Ventura, que representou o Brasil nas Olimpíadas de Paris e conquistou o título mundial da World Skate 2004, é filha do Elber Bereta, irmão do Arame.
Conheço os dois irmãos desde o final dos anos 90, principalmente o Arame, que desde criança nos encantava nas sessões na antiga pista de São Bernardo, que era um lugar hostil.
Me lembro do Arame chegando, diariamente, na garupa da Vespa do pai, com um capacete gigante e todos nós, locais, tomávamos conta dele. O pai só voltava de noite para buscá-lo.
Quando ele começou a competir como mirim, cheguei a ser juiz nos primeiros eventos dele. E numa época que trabalhei como chefe de equipe de uma marca, uma das minhas decepções foi não ter conseguido ter ele junto, pois ele já tinha outros patrocinadores.
E num piscar de olhos, ele já era um dos principais skatistas amadores do Brasil. Teve uma época que alguns campeonatos davam uma moto para os campeões, e praticamente em todos os finais de semana o Arame trazia uma pra sua casa. Eram tantas motos, que eu dizia que ele devia investir numa empresa de motoboys. E isso é sério, não é exagero!
E então, em 2009, no seu primeiro campeonato como profissional, o Vanderley ganhou! O Arame foi campeão do Doce Skate Pro, em Madre de Deus, na Bahia. Um evento realizado pelo Alexandre Chorão.
Nós, amigos dele do ABC, que o acompanhamos desde criança, fomos buscá-lo no aeroporto de Guarulhos para comemorar. E a celebração foi até a casa dele, que foi no dia que conheci sua sobrinha, uma menininha de colo chamada Raicca.
Acho curioso que conheci a Raicca logo depois que o tio dela foi campeão brasileiro. Mas fiquei anos sem vê-la e saber que estava andando. Até que teve um dia que alguém me mostrou um vídeo de uma menina andando na Mega do Bob, e me falou que era sobrinha do Arame. Fazia sentido.
Desde sempre o Arame anda de skate com o sorriso no rosto, usando suas roupas com personalidade independente da fase da vida, se expressando fazendo rap como no Chiclé VM, cantando com um sósia do Raul Seixas na ESPN, abastecendo suas veias com adrenalina caçando balões, assim como concretiza aventuras desafiadoras.
Eu acho que nos últimos 25 anos o Vanderley Arame foi um nome bem relevante na cena do skate brasileiro. Ele continua andando de skate do jeito dele e trabalhando como professor. Inclusive, dá aulas pro Bento, filho do querido Cesar Rena.
Sucesso é um detalhe muito relativo, e eu considero a história do Arame no skate digna: campeão brasileiro profissional, capas de revistas, partes de vídeo e vários pro-models.
Ele tem as principais conquistas e reconhecimento na cena do skate brasileiro e agora vê o seu legado também em forma de DNA. E por isso que eu sempre faço questão de citar que a Raicca é a skatista sobrinha do Arame.
Mande sugestões, dúvidas, etc, para contato@skataholic.com.br
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