1994

1994 foi um ano muito marcante pra mim. Retorno ao Brasil, nascimento do Real, show do Helmet no Olympia, morte do Ayrton Senna, conquista do Tetra, “Illmatic” do Nas, comprei meu primeiro carro e tirei minha habilitação, abri minha atual conta de banco, votei pela primeira vez e editei um vídeo que escrevi na fita VHS “1994”, por falta de criatividade. 

Eu tinha uma câmera Hi-8 mas não curtia filmar, então raramente levava nas sessões. Nessa época eu queria só andar de skate e ninguém parava na sessão para assumir a câmera. Mesmo assim, por sorte, rolaram esses registros que depois editei no instinto usando a própria câmera, um videocassete, um CD player tocando “Nitro (Youth Energy)”, do Offspring – que também tinha acabado de ser lançado; e alguns anos atrás digitalizei antes da fita VHS desintegrar.

Eu era tão local da pista de São Bernardo – a original, temida e hostil Campon; que andava tranquilamente madrugada adentro, besuntado pela luz amarela com os Manos Cesar Rena, Marcelo Napas, Claudio Olhão, Cleber Sevê e muitos outros locais, sem plano algum de viver de skate, só viver o momento andando de skate o máximo possível, alimentados por esfihas e tubaínas de centavos.

Saudosismo é comigo mesmo. Adoro relembrar essas sessões e outras que não estão registradas. E refletir também, interligando com histórias como dessa escola no bairro Jardim Calux, que a gente invadia pra andar, mas os locais nos alertaram a não ir mais por causa da milícia, que podia atirar na gente quando pulávamos o muro. A escola era perfeita demais para andar e na época me instigou ainda mais para o olhar arquitetônico de picos. Numa pesquisa de alguns anos atrás, descobri que essa escola foi projetada pelo arquiteto  Paulo Mendes da Rocha, que é uma das minhas grandes referências, com Oscar Niemeyer, Artacho Jurado, Lina Bo Bardi, Gregori Warchavchik, Rino Levi, Franz Heep, etc. 

1994 foi um ano muito marcante pra mim. Escrevi “1994” numa fita VHS e eu ainda não tinha lido “1984” do George Orwell. Não ter criatividade pode ser mais original do que seguir tendências e alienações.

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