O clássico “Duotone” está completando uma década desde o seu lançamento. Um dos vídeos de skate brasileiro mais assistidos e referência de uma Era.
Em 2008, “Duotone” chamou a atenção pelas partes em duplas formadas por Rodrigo TX e Fabio Cristiano, Cezar Gordo e Bruno Aguero, Alex Carolino e Marcos Mamá, Diego Garcez e Fernando Java, além de uma parte mista com vários skatistas.
Foi o primeiro trabalho do Fernando Granja com vídeo, que vinha da área da mídia gráfica, e se tornou uma épica estreia.
Trabalhando com revista, Granja conviveu bastante com o termo duotone, que é um processo da produção gráfica. Daí a inspiração para o nome do vídeo.
Para celebrar esses dez anos de “Duotone”, o vídeo será exibido no Cine Olido dia 30 de julho, com direito a bate-papo com Fernando Granja no final.
Conversei com esse grande amigo sobre o Duotone e rendeu essa entrevista:
Você era diretor de arte da revista 100%, e da revista você foi trabalhar com o projeto do vídeo Duotone. Qual foi a sua motivação pra ter essa mudança?
Na revista, quando eu trabalhava na 100%, eu ficava um pouco preso à equipe. Eu sempre dependia de alguém para as coisas acontecerem. E eu sentia a necessidade de ser um pouco mais independente, de conseguir fazer alguma atividade onde eu pudesse ser mais independente mesmo. E daí que me veio isso de filmar, porque na real, na 100%, quando tinha os vídeos eu já ajudava. Já filmava, só que de forma colaborativa. E depois que eu falei, “pô, vou comprar uma câmera e começar a filmar”. Então foi dessa vontade de estar na sessão, de estar na rua. Eu sempre gostei de estar na sessão e produzir alguma coisa, ser útil na sessão. Antes eu tirava algumas fotos e tal, mas depois que eu comecei a filmar, peguei muito gosto pela imagem.
O Duotone levou quanto tempo pra ser produzido?
O Duotone levou dois anos e meio pra ser filmado e editado.
Quais foram os critérios pra escolher os skatistas?
Quando eu comecei a filmar, eu já tinha o nome do vídeo, que era Duotone. Mas eu não sabia quem ia ter parte. Na verdade, o (Fernando) Java, por ele ser ali um moleque novo e estar sempre junto, eu já queria ter parte com ele. E aí eu comecei a filmar com ele, e o Chaveiro (Diego Garcez) na época, eles eram bem amigos, começou a colar nas sessões também e começou a render. E aí eu falei, “pô, da pra fazer uma parte dos dois juntos”. Os outros skatistas foram escolhidos depois de um ano, que eu já estava filmando. Aí eu juntei e vi quem eu tinha mais imagens, e veio essa ideia do Duotone fazer partes de dois skatistas. E aí eu comecei a juntar um quebra-cabeças e ver de quem eu tinha imagens. Eu lembro que na época estava indo bastante pra Barcelona, então eu tinha bastante coisas do Bruno (Aguero) e do Fabio (Cristiano), lá de Barcelona. O Rodrigo (TX) vira e mexe eu filmava aqui no Brasil, então já tinha alguma coisa. O (Cezar) Gordo também estava sempre muito próximo, então aí foi indo. O Alex (Carolino) e o Mamá (Sieben) eu também já tinha feito algumas missões com eles, então já tinha algumas coisas. Então foi um quebra-cabeças formado um ano depois de começar a filmar mesmo.
Mas teve algum critério especial pra escolher as duplas?
O critério foi dos caras combinarem o estilo e de preferência serem próximos, terem uma certa amizade. Como no caso do Chaveiro e o Java, eles eram bem amigos. O Alex e o Mamá, muito amigos. O Rodrigo e o Fabio já um critério de serem caras de diferentes gerações, mas de grande importância nas suas gerações, então seria um mix legal. O Gordo e o Bruno por serem dois skatistas técnicos e por serem quem eu tinha mais imagens ali também. E acabou que eu achei que eles casavam bem ali o estilo dos dois.
O que você acha que foram os legados desse vídeo pro skate brasileiro?
É meio complicado eu falar sobre algum legado que o Duotone deixou para o skate brasileiro. Mas eu acho que essa questão de ter conseguido abrir as portas do Cine Olido para ser um cinema do skate, depois do Duotone ter uma série de lançamentos, essa foi uma coisa muito legal pro skate. Eu acho que ter sido uma grande injeção de ânimo nos videomakers ou quem nem era videomaker e de repente quis fazer vídeos, porque na época que saiu o Duotone, vídeo estava um pouco em baixa, não saia tantos vídeos, e querendo ou não, foi uma galera que inspirou uma galera. Então eu acho que trouxe essa energia de fazer vídeos. E tiveram outras coisas que eu vi que depois acabou influenciando outros vídeos, os vídeos que vieram depois, por exemplo, essa ideia de fazer várias premières, em várias cidades. Eu lembro que depois, o Simplesmente, fez praticamente uma tour. Os caras saíram do sul, foram parando fazendo premières em várias cidades. Eu vi e falei que era uma coisa que eu nunca tinha visto antes. E eu acho que foi um pouco de influência legal.
A questão dos próprios skatistas que tiveram parte se dedicarem bastante, porque quando a gente juntou, eu falei com as duplas e fiz a proposta. Falei, “a ideia é essa, você está afim de fazer parte?”, todo mundo fechou e começou a rolar uma união muito grande, uma cumplicidade dos skatistas se dedicarem mesmo. Deles pegarem e falar, “pô, vou fazer uma parte pra ser lembrada”. Todo mundo nessa energia, filmando junto, as vezes saia o Gordo, Rodrigo, os caras que não necessariamente tinham partes juntos, mas que estavam no vídeo. Por isso que divisão, praticamente a passagem de todas as partes tem ali um skatista da outra parte. Você vê da parte do Chaveiro com Java passando pro Fabio e o Rodrigo, tem ali a última manobra do Java o Fabio na sessão. E tem a última manobra do Chaveiro, tem o Rodrigo na sessão. Então esse clima de família que a gente só vê mais em times de skate, times de marcas de shape, que faz a galera andar junto e tal. Isso foi uma coisa muito legal e que eu vi depois em outros vídeos. Que é uma coisa normal na real, dos vídeos. Ter essa cumplicidade.
Pra comemorar essa década do Duotone você está preparando uma comemoração especial.
Na verdade, não sei se vai ter uma comemoração especial. Mas aproveitando esses dez anos do Duotone, pensei em fazer uma reexibição do vídeo no Cine Olido. Falei com a Sulla (Andreato, diretora de produção executiva da Galeria Olido) e ela achou super bacana a ideia. E junto disso, minha ideia é terminando a sessão do vídeo, eu ficar lá na frente e abrir o microfone pra galera fazer perguntas, abrir um bate-papo mesmo, porque eu fui convidado pra fazer isso em Suzano, pelo Davison (Fortunato), e foi muito legal a receptividade. Tiveram perguntas muito interessantes sobre a produção do vídeo, ou sobre a profissão de videomaker de skate. E disso me veio a ideia de fazer no Cine Olido, que foi uma coisa marcante, e abrir essa conversa, pra quem tiver dúvidas. Eu acho que essa troca de experiências vai ser muito válida.