Na véspera do início do Tampa Pro, a largada da temporada 2016 da Street League, Kelvin Hoefler caiu e sofreu fraturas na perna enquanto andava na nova pista de concreto fora da área de competições. Ele passou por uma cirurgia e sua recuperação vai levar alguns meses. Uma pena, pois Kelvin é um cara que vai para as competições muito determinado e em 2015 conseguiu uma ótima terceira colocação no evento, colocando-o na Street League e vencendo de cara o Super Crown.
Seu nível de skate é inquestionável, mas uma de suas maiores qualidades é pouco reconhecida: a bondade. Desde sempre Kelvin compartilhou suas conquistas com os necessitados e ele também é um grande embaixador do skate no litoral paulista. Seu prestígio abre várias portas para o skate e uma das maiores novidades do ano é o Damn Am que ele ajudou a trazer para o Brasil pela primeira vez. A competição amadora acontecerá em Santos no mês de abril e é um atalho para a Street League.
De Los Angeles, onde Kelvin está se recuperando, ele respondeu algumas perguntas para o blog. Na entrevista, ele fala sobre o Damn Am, a Street League, sua pista no Guarujá e como está sendo a recuperação da cirurgia.
O que rolou em Tampa? Você se machucou sério.
Pois é, eu estava me divertindo lá fora no bowl de cimento e machuquei. Foi um tombo bem bobo… Eu quebrei a fíbula e tíbia. Fui para o hospital e fiquei lá por quatro dias, pois os caras não queriam me liberar pra voar de volta pra casa (Los Angeles). Quase fugi de lá, só que não dava….
Como será o processo de recuperação agora? Os médicos estimam que você estará 100% em quanto tempo?
Agora só tirar férias forçada. Os médicos falaram que calcifica em 30-45 dias e depois disso vai depender da fisioterapia. Vou fazer um tratamento de reabilitação com o Dr. David Sales em San Clemente, pois ele já é um grande amigo e também cuida de muitos skatistas que se lesionam por aqui. O cara é muito bom.
Não me lembro de ver você machucado antes. Essa é sua lesão mais grave?
Eu quebrei a minha rótula do joelho no final de 2011. Após aquela turnê Européia que eu me dei bem. Acredito que qualquer lesão seja grave, principalmente para nós skatistas que precisamos estar bem o tempo todo. Temos que cuida direito do nosso corpo sempre.
Você imagina retomar a temporada da Street League em qual etapa?
Se eu pudesse já corria Barcelona, mas eu não sei ainda. Tudo vai depender da minha recuperação. Acredito que no máximo estarei de volta pra etapa da Alemanha.
Agora são quatro brasileiros na Street League. Pra você, faz diferença ter mais brasileiros na Liga?
Sim, claro que faz. Fico muito feliz pelo Brasil ser bem representado por nós, e agora o pessoal do Brasil vai ter mais um integrante no nosso time. E ainda tem o Pro Open em Barcelona, onde outros dois podem entrar e seria legal também. O Brasil está sendo muito bem representado.
Quais principais mudanças na sua vida depois que você ganhou o Super Crown em 2015?
Acredito que continuo a mesma pessoa. E a coisa mais legal que eu senti, foi a confiança em mim mesmo que eu ganhei após vencer o Super Crown. Pois as vezes até nós mesmo não acreditamos, mas tudo é possível. O corre não para.
Você está sem patrocinador de decks desde o final do ano. É opção ou o mercado está complicado mesmo?
Os dois, opção e o mercado está passando por uma grande mudança. Eu vou ficar sem patrocínio de shape até encontrar uma marca que eu acredite que tenha a ver comigo e que eu goste dos skatistas. Quero ficar por muitos anos. Estou pegando shapes com o Professor Schmitt e são perfeitos. Ele é o mestre das madeiras gringas. Muito gente boa.
Fazer sua própria marca não está nos seus planos?
Ainda não pensei sobre esta idéia. Mas não descarto, pois muitas marcas grandes como a Zero, Baker, Girl e outras, foram feitas por skatistas. Não sei exatamente se é o momento, mas se eu fizer, quero fazer direito e dar valor aos skatistas sempre. Existem muitas marcas hoje em dia, mas poucas valorizam os skatistas. E sempre falo e repito, valorizem as marcas que apóiam os skatistas. Quando eu era criança eu não sabia de nada, mas fui crescendo e aprendendo. Às vezes é bom saber desde pequeno.
Ter sua pista no Guarujá e agora idealizar uma etapa do Damn Am no Brasil mostra que você quer ajudar o skate. São poucos caras que fazem isso depois que chegam no topo. Eu imagino que a sua pista não dê muito dinheiro. O que te motiva a fazer essas coisas?
Quando eu era criança não tinha onde andar e aprender as manobras. Sempre sonhei em morar perto da Drop Dead (em Curitiba), onde muitos tiveram pra evoluir e de lá saíram muitos skatistas para o mundo. Então, como moro numa área bem carente, resolvi abraçar a causa com o Alyson Dorgo, que também foi comigo nessa loucura. A pista não dá dinheiro, são só gastos. E em muitos meses eu pago para os skatistas andarem. É muito legal ver a molecadinha crescendo e aprendendo as manobras. Hoje em dia eles vão para os campeonatos fora da cidade e se dão muito bem. Vivem postando as fotos e eu fico orgulhoso deles. Temos também um projeto com a prefeitura com mais de 80 crianças das favelas e região, e uma vez por semana ensinamos a andar de skate na pista. Tenho a ajuda da minha família nesse projeto e meu cunhado Aleff Santos. É muito bom devolver para o skate, pois minha infância foi muito difícil, numa casa onde só o meu pai trabalhava e não tínhamos muito dinheiro e acesso as peças de skate e pistas.
Você intermediou a realização do primeiro Damn Am na América Latina. Explica como rolou a negociação toda.
Na real, eu tenho uma amizade muito grande com o pessoal de Tampa e sempre levo os meninos brasileiros para os Damn Am aqui na Califórnia. Eu estava pensando em fazer uma tour no Brasil levando alguns gringos, e com um campeonato amador no fim da tour, tipo uma confraternização. Mas no final, eu conversando com eles sobre isso, me perguntaram se existiam possibilidades de fazer um Damn Am no Brasil. Eu fui atrás dos patrocinadores e a QIX já abraçou a idéia desde o inicio, pois estão juntos com os meus projetos. A idéia é dar oportunidades para todos os amadores brasileiros a ficarem conhecidos em um evento tão clássicos como o Damn Am. Muitos skatistas brasileiros chegam aqui e os caras não os conhecem, como o caso do Wacson Mass, que eles nem queriam deixar ele correr. Aí eu fui lá e falei com os caras. Eles liberaram e no final o menino ganhou o campeonato. Eu como profissional, quero dar chances – que eu não tive, pois foi difícil eu ser aceito no Tampa quando corri de amador – para que os amadores tenham uma chance maior em se dar bem fora do país e seguirem o caminho que eu segui. Pois agora, se um amador ganhar o Tampa ele entra para o Pro Open do Street League. Acredito que este evento seja muito importante para o futuro do skate brasileiro.
De certa forma a pista de Santos tem um formato limitado. E a manutenção dela também não está em dia. Quais as mudanças vão rolar pra ficar pronta para o evento?
Acredito que a pista seja ideal pra o formato. E também, a maioria dos Damn Am são feitos em pistas pequenas, como o caso de Costa Mesa, dentro da pista privada da Volcom. A pista (de Santos) vai entrar em reforma no final de março e será reinaugurada no dia do evento. Assim como a prefeitura fez com a (pista de skate) Palmares, a pista vai ser toda reformada e estará nova para o evento.
A molecada está ansiosa pelo Damn Am. Estão perguntado sobre inscrições. Qualquer um vai poder correr?
As Inscrições serão limitadas e escolhidas pelo pessoal do Damn Am. Acredito que na próxima semana as inscrições serão liberadas e também vão deixar vagas para o pessoal sem acesso a internet para fazer na hora.