Lucas Xaparral fala sobre seu pro-model da Element e o vídeo de celebração

Lucas Xaparral conquistou nesse ano um dos maiores feitos que um skatista brasileiro podia alcançar: o lançamento de um pro-model, shape com sua assinatura, por uma das principais marcas de skate dos EUA, a Element Skateboards. O lançamento aconteceu no final de novembro, em São Paulo, simultâneo à uma parte de vídeo exclusiva. Um vídeo todo contextualizado e com manobras de alto impacto. O clipe começa com a timeline da vida de skatista de Xaparral. Incrivelmente, o momento em que o pequeno Lucas ganha seu primeiro skate, no aniversário de três anos, foi documentada por uma filmadora e é essa cena que inicia a linha do tempo, em que passa pelas sua principais conquistas, desde vitórias em competições amadoras e profissionais, aparições na mídia especializada e manobras históricas, como o longo nosebluntslide saindo de nollie flip na Praça do Morumbi. O vídeo celebração termina com uma forte característica do Xapa, a determinação. O switch flip que ele manda na Sé é monstruoso e se você entender os bastidores da sessão, vai respeitá-lo mais ainda.
Nessa semana conversei com ele sobre o lançamento do model e a produção do vídeo. Segue a transcrição:

(Arquivo pessoal)
Lucas Xaparral e seu primeiro skate, em Londrina, PR (Arquivo pessoal)

Você está na Element desde que ano?
Desde 2004.

Foi o primeiro skatista da marca no Brasil.
Foi logo no início. Quem me colocou lá foi o Persio da Maze, que trabalhava na Element. E ele estava afim de colocar um amador na Element. Ele me chamou lá, mostrou a empresa. E aí estava rolando um campeonato da Plasma, ele me deu material e disse “anda aí, vê se você gosta”. Imagina, né, acostumado com as perobas do Brasa, só madeira ruim, pirei nos shapes. Aí me destaquei no campeonato da Plasma, os caras da Element tinham ido lá no evento, curtiram. Aí a gente fechou um patrocínio certo, com contrato. E desde então, nunca mais saí, os caras foram representando.

Você sempre teve uma estrutura legal da empresa.
É, sempre, sempre.

Quando você foi conversar com eles, já fizeram planos de carreira, profissionalização?
Não, porque, na verdade, depois que eu entrei mudou muito a empresa. Estava bem no começo. Logo que eu entrei, o Persio, que tinha me colocado, já saiu. Toda hora era uma pessoa diferente que entrava. Demorou, a empresa começou a se estabilizar pra gente do skate, depois da entrada do (Rogério) Mancha. Começaram a ter um planejamento, começou a se pensar mais nessas paradas de skate e tal.

O Mancha entrou antes ou depois de você se profissionalizar?
Eu acho que ele entrou bem na época que eu passei para profissional.

(Cortesia Element)
Xaparral e o chefe de equipe Mancha (Cortesia Element Brasil)

E com a entrada do Mancha como chefe de equipe, com a experiência dele como skatista profissional com carreira no Brasil e EUA, o que ele agregou para a marca e para os skatistas?
Agregou muito. O Mancha, não só dele ser um skatista e ter vivido essa experiência, vive até hoje, ele é um cara que ganha como a gente, ama andar de skate. Ama informação, sabe todas as novidades de skate, está sempre correndo atrás. Porque tem muito cara que andou de skate, viveu tudo, só que o skate está sempre mudando. E se você não se atualiza, acho que a galera vai ficando com a cabeça um pouco pra trás. E o Mancha é um cara que é legal, está sempre se atualizando, sempre sabe o que está acontecendo no mercado lá fora. Então eu acho que isso é bom, serve de referência pra gente. Trás um jeito de pensar mais moderno, mais atual. Ele agrega bastante, tá no rolê com a gente, entende o que a gente necessita, e passa isso para os demais caras dentro da empresa. Explica isso dentro da empresa pra eles entenderem. É fundamental a presença dele lá dentro.

Foi por intermédio dele que rolou a concretização desse shape, o pro-model?
Sim. Na verdade, a gente já vem a um bom tempo falando nisso, nessa possibilidade, só que como depende dos caras lá de fora, foram várias conversas. E a partir do momento que o Mancha começou a ir pra lá, começou a trocar ideias de skatista pra skatista, as coisas começaram a melhorar. E aí eu fui algumas vezes pros EUA e vi algumas coisas lá. Os caras gostaram. E a partir daí os caras começaram a falar, “vamos fazer o shape do Xapa”. Mas foram mais ou menos uns três anos conversando.

Vocês tem uma proximidade com o pessoal da Element dos EUA.
Mais ou menos. Tipo, a gente se conhece, troca e-mails, conversa todas as vezes que vai pra lá, tanto eu quanto o Mancha, sabem quem somos, troca ideia. Rola um relacionamento.

Quando foi definido, batido o martelo, que ia rolar esse shape?
Foi em janeiro desse ano. Final de janeiro os caras falaram, “vamos fazer o shape do Xapa, fazer a arte”. E aí já começou, tipo, autorização, começaram a trabalhar em cima da arte. E bem nessa época, eu ia lançar um vídeo, uma web part, pra internet. Aí o Mancha falou, “não, vai rolar o shape, então vamos guardar as imagens, você continua filmando e a gente lança o shape junto com o vídeo, que é melhor”. Aí eu falei, “da hora”, continuei filmando, juntei com as outras coisas que eu tinha guardado, pra poder lançar a parte junto com o shape. Era pro shape ter chego um pouco antes, só que é bem demorada a importação e acabou quase um ano pra chegar.

E o dead line do vídeo foi de acordo com o lançamento do shape? Estava rolando o atraso e você empenhado em filmar mais.
Isso. Aí teve a data da première, o dead line foi um pouco antes porque tinha que queimar os DVDs. Mas foi baseado no lançamento do shape.

Quando rolou a ideia de descer a escada da Catedral da Sé de switch flip?
Isso foi o seguinte, na real, eu precisava fazer um anúncio do shape. Tinha algumas fotos, mas eu queria fazer um anúncio legal. Aí eu tinha pensado em ir lá na Sé pra mandar um switch ollie. Aí eu fui lá um dia e acertei o switch ollie de boa com o Chopa (fotógrafo). Aí eu falei, “dá pra mandar outra manobra aqui, ao invés do switch ollie. Vou tentar dar outra manobra pra fechar o vídeo”. Porque eu estava sentindo a necessidade de ter uma manobra pra fechar o vídeo. Já tinham várias manobras boas, mas não tinha uma história legal pra fechar o vídeo do jeito que eu queria. Aí eu falei, “pô, tá faltando alguma coisa pra finalizar esse vídeo pra ficar legal mesmo”. E aí eu pensei em dar o switch flip. Aí eu fui umas três vezes lá. É difícil de andar lá, não só pelo pico ser difícil, mas é sempre cheio, sempre tem muita gente. Não pode andar, as vezes um segurança embaça. É um pico complicado, assim, de andar. Deu trabalho, algumas vezes a gente chegou lá, não rolou, cada dia era uma coisa. Tanto que no último final de semana que dava pra filmar, estava horrível, foi um dos piores dias. Estava rolando um show lá em frente. Tinha um palco imenso bem na frente da escada. Música muito alta, uma galera dançando, estava muito difícil de se concentrar. Mas eu sabia que não tinha outro dia e tinha que ser aquele dia, senão já era. E graças a Deus consegui acertar. E acho que isso agregou bastante no vídeo.

(Element)
Além de anúncio em revistas, o switch ollie na Sé virou estampa de camiseta da Element

E você estava com seu pai, sua mãe e sua esposa lá?
Na real, como eu tinha ido várias vezes, todos já estavam sabendo que eu estava tentando a manobra. Aí nesse dia, meu pai me ligou de manhã perguntando se eu ia lá. Então ele falou que ia passar lá pra ver. E quando eu estava andando, do nada, meu pai chegou com minha mãe e a Flora (esposa). Foi da hora, porque foi muita vibe ver eles lá. É legal, diferença, eles sempre e dão maior apoio.

Contextualizou legal o vídeo, porque começa justamente com seu pai te dando seu primeiro skate aos três anos de idade.
É verdade, foi bem legal.

E quando você acertou foi um alívio total.
É, porque na real, eu fiquei lá umas duas horas pra acertar, tentando. Porque era muito difícil ir. Sempre tinha muita gente. E eu consegui ir poucas vezes. Eu tentava uma vez e demorava uns dez minutos pra ir de novo. Então na hora que eu acertei, já estava no limite, não estava aguentando mais, estava muito cansado. Foi embaçado. E todo mundo, a galera que estava em volta, umas pessoas que ficaram umas duas horas lá vendo. E quando eu acertei todo mundo aplaudiu, foi bem legal.

O Mancha me comentou que você se empenhou bastante na produção e edição final do vídeo. Varou várias noites com o Gema (editor).
É, porque depois que eu acertei o switch flip, tinha que editar. Eu sou meio chato, gosto de acompanhar tudo de perto. E aí faltava finalizar as músicas, as edições. Eu falei, “ah, vou ficar na casa do Gema acompanhando”. E eu dormi lá as três noites após a sessão da Sé. Eu fiquei praticamente três noites sem dormir, lá editando com o Gema. Foi bem louco. E o vídeo pode ficar do jeito que eu queria mesmo.

E a arte, quem produziu?
Tiveram as fotos do Chopa, as artes do Sono, que é o cara que trabalha na Element. Só que a arte dele foi baseada em cima da arte do departamento de criação da Element dos EUA. Ele pegou de inspiração e usou ela para diversas coisas.

(Cortesia Element)
Pro-model do Xaparral pela Element Skateboards (Cortesia Element)

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