Acessibilidade dos materiais de skate

Há tempos eu tava encucado com uma dúvida. Em 1990 foi lançado o shape do Alexandre Ribeiro pela URGH!, que na época revolucionou toda indústria. Foi o primeiro model com nose gigante. Alguns meses antes, a Lifestyle havia lançado o do Thronn também com nose grande, mas o do Ribeiro tinha praticamente o mesmo comprimento do tail. Nessa época os formatos dos shapes eram seguindo o estilo tubarão.
O Alexandre Ribeiro foi um skatista espetacular. Em 1990 ele estava muito avançado pro nível dos skatistas brasileiros. Acho que toda molecada da minha geração queria ser como ele. E quando a URGH! colocou o model dele no mercado logo foi sucesso de vendas. Eu tinha apoio de uma loja, mas como lá não vendia URGH!, corri atrás de um emprego de office boy pra ter a grana.
Aí, me veio a dúvida, porque lembro que o salário mínimo era exatamente o preço do shape. Ou seja, hoje, seguindo essa lógica o shape custaria R$ 415. Mas aí fiz outra conversão. Meu salário na época era NCZ$ 3.674,06 e o dólar tinha uma oscilação absurda. No dia primeiro de março custava NCZ$ 31,251 e no último dia do mês NCZ$ 41,933. Um shape nacional por U$ 100. Mais de R$ 200?

Meu primeiro registro em carteira

O preço médio de uma madeira nacional de qualidade hoje em dia é R$ 70. Eu costumo comprar models da Girl e pago R$ 200.
Isso se chama acessibilidade. Acho que o maior problema de quem reclama que as peças são caras, é que ninguém quer comprar. Só querem ganhar. Claro que os preços podem baixar mais, mas só quando valorizarem as empresas que investem para que haja essa evolução.

Aqui em baixo, dois models do Alexandre Ribeiro. Essa foto é do Jorge Kuge, dono da URGH!, que me confirmou que a média de preços eram U$80 por cada um. Mas acho que nenhum desses foi o primeiro pro-model do Ribeiro. O da direita acho que foi o segundo.


Logo que recebi o salário já fui demitido. Peguei o salário e corri pra Hammerhead (que hoje em dia é conhecida como Central Surf) e gastei com gosto os suados cruzados novos. Logo que montei o skate, juntando a inspiração do Alexandre Ribeiro, evoluí muito. Foi a época que meus ollies começaram a grudar nos pés e subir. Tava muito empolgado, andando dias e noites direto, até que o skate espirrou pra baixo de um ônibus e virou migalhas. A loja que eu tinha apoio viu minha evolução com esse shape e me deu um novo. Se tornou revendedora da URGH! E é assim que deveria funcionar o mercado…

Em tempo. O Alexandre Ribeiro era um dos locais da ZN Skatepark, um templo do skate paulistano. Pista em que ele era o rei absoluto. Segunda-feira agora rola a première do documentário “Lembranças de uma geração” no Cine Olido. O Rubens Sunab digitalizou dezenas de fitas gravadas despretenciosamente entre 93 e 97 na pista e o Wagner Profeta editou. (leia AQUI a notícia no site da 100%)
Torço para que o Alexandre Ribeiro esteja lá!

Não confundam com o falecido Alexandre Ribeiro, do Rio Grande do Sul.

6 comentários em “Acessibilidade dos materiais de skate”

  1. Ae Arakaki, tava lendo o seu post no skataholic sobre o shape do Alexandre Ribeiro e, concordo com vc.
    As fotos do shape não são do primeiro model, mas do segundo e terceiro. O primeiro model tinha o boneco segurando um pincel e uma lata de tinta próxima ao pé e, no nose tinha o nome do Alexandre como se a tinta estivesse escorrendo.
    Abç

  2. Fala aí Sidney !!
    Vc têm uma tremenda energia para atualizar seu blog constantemente . Eu lembro bem desta época da Hammerhead em 93 , era muito bizarro a nossa economia . LI o texto e tive calafrios quando lebrei em como fazia para ter os materiais de skate e as roupas. Jorge Costa

  3. belo exercício de atualizaçãomonetária , hein!!???

    mas o principal é essa lógica aí, de que se o material é bom e ajuda a evolução do atleta, merece espaço na loja(no mercado) e por conseqûência terá bom lucro…

    Pena que ainda hoje nem todas empresas se deêm conta dessa sequeência… BOM MATERIAL+APOIO AO ESPORTE = RETORNO E CONSOLIDAÇÃO FINANCEIRA.

    Lembrei tb de que em 1997 (não foi meu primeiro skate, mas foi meu primeiros salário assim formal, depois d eum mês regular d etrabalho) peguei meu primeiro salário mínimo (acho que era 120R$) comprei um jogo de rodas SPITFIRE Bob Burnquist (umas laranjonas..hahah) e uns trucks THUNDER… dá pra fazer uma analogia com o que podemso comprar com R$ 415 hj em dia…

    abração..pinta no blog da FRONTEIRA OESTE…MADE IN RS!!!!

    SKATE sempre!

  4. ah..e o Ale Ribeiro foi uma das minahs primeiras referÊncias..em 92 qdo comecei a andar…
    junto com Cesinha Lost, Robson Reco… e a galera aqui do Sul…

  5. Fala Sidney, é o Alexndre Ribero (antigo da URGH) que está falando. Achei legal ver meus shapes de novo!! Realmente, o da esquerda foi meu segundo model, desenho feito pelo meu tio, formado em artes plásticas. O da direita, foi meu quarto ou quinto model… Antes deles vieram os "the brothers", o do frango assado, o da série roça "chapeu de palha". Antes de eu ir morar nos EUA (final de 1992) pedi ao Jorge Kuge estampar uns shapes com o desenho acima, pois foi o desenho de model que realmente mais gostei!! Engraçado, a primeira vez que tive contato com esse shape, eu estava na Alemanha (1991), tinham roubado todos os meus shapes nos EUA e o Xixo, ao chegar do Brasil trouxe uma sktbag cheia de roupas e shapes para mim e para o Kuge… Estávamos na roubada com poucas roupas!!!

    Abraços

    Alexandre Ribeiro

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